UMA ENTREVISTA DO BAGULHO ( by Kil )

Situação: Um menino que foi tirado das ruas graças à cultura hip hop, depois de tanto tempo em centrais e instituições ligadas ao rap, o jovem consegue sua primeira entrevista de emprego. O jovem raper caminha na rua já confiante “Essa vaga é minha”.

Entrevistador: Bom dia, entre, por favor,

Raper: buenass jow

Entrevistador olha estranho e fala: bom, sente-se

Raper: muito loko aqui, salinha de playbaaa hein

Entrevistador constrangido: hehehe que bom que você gostou, então me diga senhor, qual seu nome?

Raper: Ice Evanderson

Entrevistador: Desculpe, Como?
Raper: Ice Evanderson brow
Entrevistador: mas aqui no seu currículo diz VANDERCLEIDISON EVANDERSON PEREIRA SILVA

Raper: a tah, esse é o meu nome de batismo, mas o meu nome de MC é Ice evanderson
Entrevistador: Desculpe de novo, MC? O que seria?
Raper: ah sim, MC, é que sou mestre de cerimônia
Entrevistador: Mas estranho, no seu currículo não notei isso, aqui diz que nem mestre de obra você foi

Raper: não velhooww, MC do rap, eu faço rimas
Entrevistador: Poxa legal, a minha filha aprendeu a fazer uma ontem

Raper: Serio? Quantos anos têm a gatinha?
Entrevistador: fez 3 anos semana passada
Raper: AH tah, sóóó, entendi.

Entrevistador: Então, o senhor poderia falar um pouco mais sobre você?

Raper se levanta, ergue as mãos e começa a rimar gritando alto:

Sou o que sou, ninguém vai me mudar

to nessa terra pra destruir e causar

ice evanderson, esse é meu nome

se não gostou vem encarar

sou da favela, sou do mau

se achou ruim pega no meu...pé

Entrevistador: Errr, obrigado senhor, pode se sentar
Raper: é mais ou menos assim meu trabalho
Entrevistador: Bom, aqui diz que o senhor sabe grafitar, o que seria isso?
Raper: É arte jow, quer ver, vou te desenhar aqui nessa folha
Entrevistador olha assustado o raper rabiscando
Raper termina e fala: Já era, olha ai
Entrevistador pega a folha e fala: Nossa, mas espera ai, eu não sou negro, nem sou careca, e meu nome não é Samuel L. Jackson
Raper: tah, é que queria dar um toque a mais na sua pessoa
Entrevistador: Obrigado, bom, vamos continuar, aqui diz que o senhor sabe dançar hip hop, o que seria?
Raper levanta já sorrindo e todo feliz falando: AHhhaahhHa jow, isso ai eu tiro de letra, aprendi la na Ong
Entrevistador olha o raper se jogando e esfregando a bunda, a barriga, o peito, a cabeça, o pinto e as pernas no chão
Raper se levanta , derruba uma cadeira e diz: Curtiu aê?
Entrevistador pega o telefone, liga para a secretaria e diz: Cancelem a faxineira, já enceraram meu chão
Raper não entendeu
Entrevistador: Então senhor, nos somos uma empresa de informática, como que os seus serviços iriam poder entrar aqui na empresa?
Raper: Ah, eu manjo de um pragrama ai, o paint
Entrevistador: Senhor, não trabalhamos com esse programa aqui, desculpe.
Raper: Serio? É que la na ong ensinaram a gente a grafitar digitalmente
Entrevistador: O que o senhor aprendeu nessa ong?
Raper: AhhhaahhaH truta, la é minha família, tipo, acordo cedinho, tipo 11 horas da madrugada, daí vou jogar bola no campinho do seu admilson, logo depois almoçamos, vai de tudo, só coisa fina, dês de pão com mortadela até miojo, de tarde a gente dança hip hop, tipo essa paradinha ai que mostrei pra você, depois grafitamos as paredes la, desenhamos tudo nos muros, escrevemos, é o maior barato, e o legal é que nosso professor de grafite fala para praticarmos o grafite nas escolas tambem, mas como não temos tinta nem spray, então uso o canetão mesmo, daí escrevo nas carteiras, muros e tals, se o senhor ver por ai Ice – E, pode crê que sou eu.
Entrevistador: Pêra ai, na garagem do prédio tem isso, bem na porta de entrada
Raper: AHuahaha tavendo, o senhor pode ver meus trabalhos pela cidade toda
Entrevistador: mas isso é vandalismo
Raper: Velhow, isso é arte, firmeza?
Entrevistador: Olha, estive olhando mais o seu currículo, na parte final vc colocou que é o guerreiro do morro, que sua rima machuca a burguesia, e no final vc fez o desenho de uma casinha com nuvens
Raper: não é casinha cara, é uma pick-up
Entrevistador: Ah legal, o carro?
Raper: Não jow, é um instrumento de trabalho que uso para fazer o tunts, tats, puts poll
Entrevistador limpa os cuspis da cara e diz: Bom senhor, olha, o senhor é uma figura muito interessante, entraremos em contato assim que possível
Raper olha feliz e fala: Poxa valeu, o senhor é branco mas é gente boa, a gente se tromba por ae
Entrevistador da um sorriso sem graça e fala: Até mais
Raper se levanta, vai até a porta
Entrevistador: Érrr, senhor, só uma coisa, o senhor poderia devolver minha calculadora?
Raper: Que?
Entrevistador: É que eu acho que essa calculadora ai na sua jaqueta aparecendo pra fora é minha, ela é cara, custou uma nota
Raper: Você ta me tirando, seu burguês?
Entrevistador: Não senhor, só estou pedindo esse favor, me devolva a calculadora
Raper: Isso é racismo, vc acha que roubei só pór que sou negro!!!
Entrevistador: Mas o senhor é mais branco que eu!!!
Raper: Quer saber, toma sua calculadora, e toma tambem seu cinzero, e toma seu relógio tambem, e pode ficar com essa caneta luxuosa aqui, não quero mais.

Entrevistador: Senhor, por favor, retire-se da minha sala
Raper olha nervoso e fala: Antes de ir, quero deixar bem clara uma coisa:

Sou o que sou, ninguém vai me mudar

to nessa terra pra destruir e causar

ice evanderson, esse é meu nome

se não gostou vem encarar

sou da favela, sou do mau

se achou ruim pega no meu...pé